Como ser TOP sem ser VIP?

Está cansado de pagar impostos como otário e nunca sobrar dinheiro para tomar uma simples taça de champagne? Fica o tempo todo fraudando o Facebook fazendo check in em restaurantes chiques porque só tem dinheiro pra miojo? O fim do mês ainda é pior que o fim do mundo? Chega de miséria.

#vaiprarua

Mas não deixe que ninguém saiba a verdade sobre sua situação.

Estão todos indignados com tanta injustiça, vai ser bem fácil se misturar entre o povão revolto. Mas você é uma pessoa fina e não pode passar uma má impressão. Vá protestar, mas com glamour, sem perder o charme. Deixe o vandalismo para a turminha do Congresso, até porque justiça é uma palavra que não existe no dicionário deles.

Esteja antenado às dicas abaixo para não sair queimado numa manifestação:

O motivo: o primeiro passo é decidir por que causa lutar. Não entre como um desavisado em qualquer manifestação sem ao menos ter lido a sua ideologia. É super de mau tom ver pessoas gritando contra o petróleo numa passeata pelos professores. Não tem nada a ver. Vá com calma, além de tirar o foco do protesto você será malvisto por todos e ainda corre o risco de levar um coió.

O look: não vá paras as ruas como um vândalo. Destoe-se deles. Lembre que a mídia está lá para filmar confronto, nunca a verdadeira causa, e jamais perderá o tempo deles gravando uma pessoa bem vestida, lúcida e sofisticada segurando um cartaz pedindo MENOS CORRUPÇÃO. Então, coloque uma calça jeans transada, uma jaqueta bem sofisticada e, se possível, deixe uma echarpe dar um toque final no seu traje. Você deve estar se perguntando, nesse calor do Rio de Janeiro vestindo roupas de inverno? Acorda!!! Você não está na Suíça, essa quantidade toda de roupas é pra se proteger dos gases e das bombas que os PM's vão lançar em você. Não seja ingênuo. A polícia brasileira é manipulada, mal treinada, ganha tão mal quanto você e também não bebe champagne. Massacrar é o único divertimento deles, você é só mais um bonequinho do Play Station que vai levar bomba na cara.

A companhia: vá sempre acompanhado e nunca desgrude de seus amigos. Peça a eles que levem suas câmeras e celulares para registrarem todos os momentos. Assim você terá uma série de fotos conceituais para postar no seu Face.

A mídia: você está no Brasil e não na França. Então, uma vez que você decida ir para as ruas protestar você será visto pela imprensa como vândalo, e não manifestante. Ponto! Existe uma tática infalível para se defender das câmeras manipuladas e dos policiais afoitos por rostos virgens de cicatriz: um cartaz superideológico. Pinte o rosto com duas listras de verde-amarelo estilo “diretas já”, cubra-se com a bandeira do Brasil para não respingar sangue das pessoas em você e segure um cartaz escrito em inglês dizendo algo bem específico relacionada à passeata. Por exemplo, caso a pauta seja educação no Rio de Janeiro escreva algo do tipo: Rio has the worst governement ever (Rio tem o seu pior governo de todos os tempos). Tenha a certeza, a imprensa jamais vai deixar veicular uma mensagem dessas, mesmo porque quem a banca é o governo. Os policiais provavelmente não entenderão o seu cartaz e terão medo de você. A inteligência é a sua arma.

Noções de espaço: é muito comum você fazer parte de um manifesto com um milhão de pessoas marchando com você e ao chegar em casa descobre, pela TV, que vocês eram apenas treze pessoas. Relaxa, você não está sofrendo de esquizofrenia. Segundo a imprensa, quem passa essa informação é a PM, então já dá pra saber de onde vem o “probrema” com os números.

É bem provável que você leve um tiro dos policiais, mesmo porque eles foram instruídos pelo seu governo local para te enxotar dali. Não se abale, isso é só o começo. Não perca a finessi, erga a cabeça com o sangue escorrendo, deixe que todos vejam que é um ativista nato e saia à francesa em busca de um hospital, porque se você demonstrar fragilidade vão te encaminhar para um pronto socorro público. Aí sim você vai se revoltar com a realidade do país.

No final das contas tenha discernimento pra entender que nem você nem ninguém tem o poder de mudar nada. Pense numa roda gigante. Ainda que você retire uma ou dez pessoas não fará a menor diferença, ela continuará girando com muita força e glamour – esse é o sistema em que vivemos.

O fim para isso seria uma reforma política TOP VIP.

Bruno de Abreu Rangel

brunorangelbrazil@hotmail.com